por Neivaldo Tunes Caceres
Foto: Scot Consultoria
Em textos anteriores tivemos oportunidade de mencionar brevemente alguns aspectos que envolvem a presença das plantas daninhas nas pastagens e sua implicação sobre os hábitos de pastejo pelos animais. Neste artigo vamos focar mais detalhadamente nesse aspecto, por vezes despercebido pelo pecuarista, mas que muito impacta na eficiência de sua atividade. Pastagem limpa x pastagem infestada Em nosso artigo de julho de 2020 “A vaca vota”, apresentamos interessantes resultados de um estudo conduzido nos EUA que comprovou, cabalmente, a preferência dos bovinos por pastejarem áreas livres de plantas daninhas. Relembrando, em quatro meses de estudo, os animais permaneceram 76% do tempo na área onde havia sido feito o controle de plantas daninhas com herbicidas, em detrimento da área de igual tamanho, que ficou sem tratamento, mas com livre acesso aos animais. Nesse estudo, as plantas infestantes eram de porte baixo, apenas dificultavam a acesso da forragem disponível aos animais. Em nosso caminho profissional, no desenvolvimento de herbicidas para pastagens, em centenas de oportunidades na montagem de campos experimentais, pudemos observar esse efeito quando fazíamos aplicações em pequenas parcelas na pastagem, onde animais permaneciam na área. Com o avanço do controle apenas nessas parcelas, os animais promoviam um super pastejo nas áreas limpas e não exploravam as parcelas testemunhas ou o restante da área não tratada, onde a forragem era sub pastejada. A simples presença de plantas herbáceas de pequeno tamanho já impede que os bovinos deem sua característica bocada com a língua, envolvendo a forragem para ingestão. Menor disponibilidade de forragem por bocada leva à menor ingestão dessa forragem e, consequentemente, menor ganho individual e capacidade de suporte da pastagem como um todo. Tratando-se de plantas daninhas de maior porte, observa-se outro efeito no que se refere à distribuição dos animais na pastagem. No pasto infestado por plantas lenhosas, arbustivas e arbóreas de porte alto, popularmente chamada de “juquira”, o gado sempre está agrupado durante o pastejo e na sua movimentação pela área. Num pasto limpo, os animais distribuem-se e exploram uniformemente a área. Esse fato decorre do hábito gregário que os bovinos desenvolveram ao longo da evolução das espécies, por serem herbívoros, presas naturais, portanto, necessitam do contato visual entre indivíduos do grupo para se sentirem seguros no ambiente. Na pastagem limpa, por mais distantes que os animais se encontrem, havendo possibilidade de contato visual, os animais sentem-se protegidos e pastejam tranquilamente; na “juquira” os animais estão sempre próximos, para que esse contato visual não se perca. Esse efeito pode ser observado nas fotos a seguir. Figura 1. Pastagem infestada à esquerda com os animais agrupados, e totalmente dispersos numa pastagem livre de plantas daninhas à direita.
Fonte: acervo pessoal do autor Fácil imaginar que ocorrerão áreas de super pastejo e outras de total subutilização da forragem em diferentes pontos da pastagem infestada. Como praticar nessas condições o correto manejo de entrada e saída dos animais em função da disponibilidade de forragem? Impossível. Esse aspecto é um fator decisivo de degradação das pastagens que leva a um caminho sem volta, determinando em pouco tempo a necessidade de sua renovação para que novamente se eleve o patamar de produtividade da área. Compactação direcionada e perdas Plantas daninhas de maior porte, mesmo que em pequenos níveis de infestação, forçam também o caminhar dos animais, que desviam das plantas, criando um traçado repetitivo, levando tanto ao desaparecimento da pastagem nesses caminhos, como à compactação dirigida do solo, prejudicando a penetração da água da chuva e criando ambiente propício para que a água corra e origine erosões, podendo até levar à formação das temidas voçorocas, em casos extremos. A presença de espinhos nessas plantas intensifica esse efeito, que afasta ainda mais os animais em seus hábitos de pastejo e caminhar. Estudos conduzidos pela ESALQ mostraram que espécies com espinhos impedem o aproveitamento do capim a até 1,5 m de seu centro, enquanto espécies de plantas invasoras sem espinhos influenciam negativamente num raio de até 1,0 m ao seu redor. Essa informação é interessante, porque mostra que, mesmo sem espinhos, uma planta tem grande influência na perda de aproveitamento da pastagem, podia se imaginar que esse efeito não fosse tão pronunciado. Estudo no MT do Prof. Sidnei Marchi e outros (Planta Daninha 2019; v37:e019185644) também mostra a influência negativa de espécies com espinhos entre 1,0 e 1,5 m de seu centro, sobre o acesso dos bovinos à pastagem existente. Façamos um exercício: consideremos uma infestação de apenas 500 plantas/ha, muito pouco, praticamente uma planta a cada 10 m de distância, a influência de cada uma delas, se não tiver espinhos, é exercida numa área de aproximadamente 3 m2, totalizando 1.500 m2 de pastagem não aproveitada por hectare. Dá para acreditar que 500 plantas causam uma perda de 15% da produção de forragem em 1 ha de pastagem? Para piorar, se essa espécie possuir espinhos, as perdas podem subir para 35% com a presença dessas 500 plantas/ha. Consideração final São clássicas e frequentes as referências das plantas daninhas com as perdas de produtividade e qualidade da forragem; redução da vida útil das pastagens e degradação, necessitando altos investimentos para sua renovação, mas raras são as menções de que a presença dessas espécies indesejáveis, mesmo em infestações aparentemente desprezíveis, afeta de tal modo o comportamento animal, que multiplica esse efeito danoso na pastagem. Atente-se para mais esse detalhe e tenha no controle das plantas daninhas um item essencial e inquestionável na rotina da atividade pecuária.
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